Obs.: (partes desta história são reais e aconteceram em Itajaí e região no estado de santa Catarina)
Era final de novembro de 2008.
Cãozinho sozinho! Por: AHC-DIUB FÔSTER.
Era final de novembro de 2008.
As águas do rio Itajaí,
subiam depressa devido as chuvas intensas,
á muito tempo,
eu perambulava pelas ruas da cidade,
á procura de alimento nos amontoados de lixo,
nos terrenos baldios,
á noite fazia calor por aqueles dias,
então,
mesmo todo sujo,
magro e com algumas feridas e sarna,
proporcionadas pela falta de banho e cuidados,
pois não dispunha de um ser humano,
para me chamar de: ' seu cão!'
Sempre encontrava alguma casa abandonada,
ou um depósito de supermercado,
onde eu me alimentava de alguma comida jogada fora por acaso,
ou resíduo dispensado por alguém,
que sentia menos fome do que eu.
Ali então,
todas as noites,
daquele final de novembro,
eu abastecia o estômago e
encontrava um cantinho aconchegante,
em meio aos papéis e
jornais que me mantinham resguardado na noite.
Mas naquele dia 30,
algo me atraiu para aquele depósito de papelões,
talvez o cheiro da comida,
que um senhor barbudo,
que residia na rua como eu,
aquecia em uma panela no fogo,
do chão,
dos fundos do depósito de papelão.
Eu fui chegando,
o senhor barbudo,
me viu aproximar e
me chamou com assobios desafinados;
tenho de reconhecer,
que naquele dia molhado,
estivera durante toda a manhã e
tarde,
procurando algo para comer e
não encontrara,
na verdade,
já chovia a quase 2 meses sem parar e
eu,
todo molhado e
embarrado,
já não encontrara o caminho daquele supermercado,
onde costumava dormir todas as noites,
então,
aquele cheiro de comida requentada,
quase que me hipnotizava,
então me ‘aprocheguei’ e
fui bem recebido pelo senhor barbudo,
coisa que achei um tanto estranho,
já que estava acostumado a levar pedradas,
dos meninos uniformizados das escolas e
das mulheres com suas sacolas nas ruas da cidade.
Após me dar um pouco daquela refeição,
nós dois,
lado a lado,
como dois antigos amigos,
adormecemos ao som ensurdecedor da chuva que caía,
o homem havia sido bom para mim e
eu estava feliz em ter encontrado um amigo humano para me proteger. Como eu estava exausto e
após comer e
ouvir algumas frases balbuciadas pelo senhor,
que de vez em quando,
tremia de frio,
acomodei-me sobre um fardo grande de papelões,
donde vigiei o sono do meu novo amigo,
até enquanto também pude resistir.
Com o som repetitivo das goteiras,
junto ao compensado usado como telhado pelo homem,
acabaram por me fazer entrar em sono muito profundo,
tão profundo,
que quando acordei,
já não vi o homem e nem ninguém,
só escutava os trovões e
os ‘contêineres’ próximos do depósito de papelões,
a tombarem com a força da correnteza,
formada pela água das chuvas que destruía tudo a minha volta,
sorte a minha,
em estar sobre o fardo de papelões,
pois, do contrário,
estaria eu,
afogado,
naquelas águas lamacentas.
Acredito,
que tal pesadelo da enchente,
começara umas 4 horas da manhã e
abaixo de muita chuva,
o fardo de papelões,
foi boiando em direção ao cais do porto de Itajaí destruído pelas águas, e eu agarrado como pude,
junto aquela pequena montanha de papelões.
Três horas depois,
amanheceu,
e o sol como por encanto,
apareceu,
eu, de tão exausto que me encontrava,
acabei desfalecendo várias vezes,
molhado,
tremendo de frio,
orei para o "Deus dos cães",
proteger-me,
e, me deixar sobreviver,
aquele pesadelo em que encontrava-me,
boiando no meio do rio Itajaí,
sobre o fardo de papelões.
Quando então,
um senhor,
em um barco (o mesmo que tirou a foto acima),
me resgatou,
me alimentou e
me acolheu em sua casa,
que,
hoje também é a minha casa,
onde sou feliz.
Penso em como e
onde andará aquele senhor barbudo,
todo sujo,
que nos fundos do depósito de papelões,
me deu abrigo,
me chamou para ser seu amigo,
dividiu aquela que pode ter sido a sua última refeição e
que não sei onde andará.
Soube,
que naquela enchente,
na região,
morreram muitos humanos: (135),
uns afogados,
outros,
até soterrados, e
muitos animais,
também morreram,
incluindo cãezinhos solitários como eu(saldo não revelado),
espero que ao ler estas linhas,
os humanos lembrem-se,
de que: cãezinhos abandonados como eu fui,
ainda vivem pelas ruas e
que devemos nos lembrar deles,
não somente,
durante ou após as enchentes,
e que aprendam a serem mais legais,
com os cãezinhos sozinhos,
que vivem pelas ruas das cidades,
a procura de alimento,
de carinho,
e de um ser humano,
para chamar de amigo!
Texto criado pelo professor:
Alexandre heleno de Castilhos.20/05/2009.
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